terça-feira, 5 de maio de 2009

DIÁRIO


Presidente da CEP fala de «ataques» à família

D. Jorge Ortiga deixa críticas à legalização do matrimónio entre homossexuais e à banalização do aborto.

O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), D. Jorge Ortiga, deixou esta Segunda-feira duras críticas às políticas do governo em matérias relacionadas como o casamento, o aborto e a eutanásia.

O Arcebispo de Braga fez uma referência directa à tentativa de “redefinição legal do casamento (e, desse modo, do conceito de família), de modo a nele incluir uniões entre pessoas do mesmo sexo”, situação que classificou como “grave”.

Falando no discurso de abertura da Assembleia Plenária da CEP, que decorre em Fátima até dia 24, este responsável defendeu que “a identidade própria da família” não pode “confundir-se com qualquer outro tipo de convivência”.

Mais à frente, D. Jorge Ortiga condenou a “banalização” do divórcio, afirmando que “as recentes alterações legislativas ao regime do divórcio, que o facilitam ainda mais e que tornam o casamento civil o mais instável dos contratos, não podem deixar de ser apontadas como sinal negativo”.

Para o Arcebispo de Braga, “os cidadãos têm o direito de saber qual a concepção de política familiar subjacente aos vários programas”, frisando que “seria bom que os candidatos apresentassem propostas reflectidas sobre estas questões, que são mais decisivas para o futuro da sociedade do que muitas outras que ocupam lugares de primazia em agendas partidárias e em primeiras páginas de jornais e noticiários”.
“A desestruturação familiar chega a estar na origem de fenómenos tão graves como a toxicodependência e a delinquência juvenil. Mas mesmo quando não se atingem estes extremos, não pode dizer-se que será salutar uma sociedade onde a situação de crianças que não são simultaneamente educadas pelo pai e pela mãe deixou de ser excepção e passou a ser regra”, apontou o presidente da CEP.
D. Jorge Ortiga disse também que “a convivência familiar é também, por vezes, a ocasião que propicia fenómenos de violência doméstica, que representam a completa perversão dos valores familiares”.
“Sem descurar a acção dos sistemas policial e judicial na repressão deste fenómeno, há que salientar a importância da prevenção, o que também depende da educação e da preparação para o casamento”, indicou.

Aborto e eutanásia

As críticas do Arcebispo de Braga alargaram-se às “ameaças e atitudes de negação do direito a nascer e a viver”, apontando o dedo a uma “mentalidade deliberadamente anti-natalista”.
D. Jorge Ortiga referiu que a “legalização do aborto” levou a uma “banalização crescente dessa prática”. “Como se revelam agora enganadoras as declarações de que a legalização permitira conter o número dos abortos, através de sistemas de aconselhamento”, acusa.
O discurso do presidente da CEP passou ainda pelas “anunciadas propostas de legalização da eutanásia, que apresentam a morte como resposta ao sofrimento da doença e da fase terminal da vida”.
“Há que valorizar a vida, mesmo na doença e na sua fase terminal. A doença não retira dignidade à vida”, defende D. Jorge Ortiga.
Para a Igreja, prosseguiu, “a vida biológica, desde a concepção até à morte, possui uma sacralidade intrínseca, uma dignidade inalienável e originária que lhe confere um valor único e irrepetível”.
O presidente do episcopado português aplaudiu “medidas recentes de aumento dos abonos de família ou de alargamento das licenças de maternidade e paternidade”, mas lembrou que persiste “a injustiça de um sistema fiscal que discrimina negativamente as pessoas casadas e que não tem em devida conta os encargos que os filhos representam”.
Noutro âmbito, o Arcebispo de Braga apontou o dedo à “legislação, recentemente aprovada, que consagra a obrigatoriedade da disciplina de educação sexual, sem atender à necessidade de respeitar as convicções das famílias, pode vir a traduzir-se noutro atentado aos seus direitos”. “Atendendo a experiências já realizadas entre nós, são justificados os receios de que os programas dessa disciplina possam chocar com as concepções éticas das famílias em matéria tão delicada”, acrescentou.

Crise

Numa intervenção que abordou diversos temas da actualidade, D. Jorge Ortiga frisou que “o cenário de crise económica, que já se verifica e que tenderá a agravar-se nos próximos tempos, torna particularmente gravoso o futuro de muitas famílias”.
“Esta crise económica poderá servir, precisamente, para descobrir novas formas de organização económica, mais fraternas e solidárias, mais à medida da pessoa e da família”, disse.
O Arcebispo de Braga assinalou que “perante a crescente exclusão social, só uma verdadeira integração de todos – pessoas e grupos sociais – permitirá que a pobreza e a discriminação não proliferem”.
Após falar no “espectro da pobreza, tantas vezes envergonhada”, este responsável observou que “a falência do sistema económico-financeiro exige uma solução global, onde a participação de cada um faça com que as coisas materiais sejam colocadas ao serviço do bem comum”.
Neste contexto, D. Jorge Ortiga acusou os empresários que “abandonaram o barco com atitudes fraudulentas, não respeitando as mínimas exigências éticas” e os trabalhadores que “caminham na ilusão de acreditar em realidades que não existem”.
“Só com maior sobriedade, austeridade e compromisso colectivo ultrapassaremos o que parece inevitável”, referiu.
O presidente da CEP deixou claro que “o direito ao trabalho é primário e condicionante da dignidade da pessoa humana”.
“Negar ou não proporcionar que todos possam exercer uma actividade que permita o essencial para viver, significa gerar fenómenos de exclusão e marginalidade social, potencialmente causadores de insegurança, violência ou incapacidade de vida em comum no respeito por todos”, alertou, antes de referir ao “problema dos desempregados envergonhados, que nunca poderemos ignorar”.

Em conclusão, o presidente da CEP fez votos de que “Portugal tenha a certeza de que a Igreja acompanha os sofrimentos de todos para fazer alimentar a esperança num amanhã menos cansado, porque cheio de serenidade e alegria”.

“Com o Santo Condestável, inventemos modos novos de servir a causa do Evangelho para que, a partir da família, criemos condições para uma Igreja com futuro e um Portugal com esperança”, disse, lembrando a próxima canonização de Nuno Álvares Pereira.

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