quarta-feira, 25 de março de 2009

DIÁRIO

Blogue Perdeum
Post 11, 23 Março 2009


“O NOSSO REBANHO É MAIOR QUE O DO PAPA”

Todos somos sabedores do reboliço suscitado pela resposta que o Papa Bento XVI deu a um jornalista que lhe perguntou, no voo desde Roma aos Camarões, sobre a sida e a sua prevenção, no dia 17 de Março passado. Não pretendo agora dizer coisas novas, nem atear mais o fogo, nem acusar ninguém, nem sequer defender o Papa, que não necessita da minha defesa. Simplesmente pretendo partilhar a minha relativa surpresa por tamanhas reacções e justificá-la.
Afirmou o Sumo Pontífice, respondendo a uma pergunta na informal Conferência de Imprensa a bordo do avião: Não se pode resolver [o problema do sida] com a distribuição de preservativos. Esta medida até pode agravar o problema, defendeu o Sumo Pontífice. A solução está antes, acrescentou, num despertar humano e espiritual, numa humanização da sexualidade.
As reacções a este pronunciamento do Papa têm sido desmesuradas, injustas e, por vezes, deformadoras da verdade do dito e acontecido. Para constatá-lo, só basta dar uma olhadela para as manchetes dos jornais dos dias 18 e 19 de Março. Na secção de “Sobe e desce”, Bento XVI era colocado invariavelmente no lado do “desce”.
A Senhora Dulcelina Serrano, directora do Instituto Nacional de Luta contra a Sida (INLS), de Angola, indignada com as palavras do Papa, garantiu que as pessoas que seguem as recomendações do Instituto ultrapassam numericamente a comunidade católica: “O nosso rebanho é maior que o do Papa”.
O jornal “Público”, de 18 de Março – um jornal sério e habitualmente objectivo -, sem nada informar sobre o discurso do Papa no aeroporto de Yaoundé, nesse mesmo dia, só comentava as referidas palavras do Papa no avião. E concluía assim, na secção “Sobe e desce”, da última página: “Sabe-se que África é um continente desgraçado em muitas frentes. A sida é um dos muitos problemas e é aí que se concentra o maior índice mundial de infectados. Voltar a criticar o uso de preservativos, posição histórica da Igreja, às portas duma visita a África é uma atitude incompreensível. Por que não a opção pelo silêncio, num tema tão sensível?”
Penso que o Papa, como aconselha o jornal, teria optado pelo silêncio sobre os preservativos. Suponho que em nenhum dos seus muitos discursos nos Camarões e em Angola, durante estes dias, o Papa mencionará a “camisinha”, mesmo que fale da pandemia da sida e do contributo da Igreja e dos cristãos em prol dos doentes de sida. Porque o Papa falou no assunto? Porque foi perguntado. E porque falou nos termos em que falou? Porque é a “posição histórica da Igreja”, como confessa o jornal. A minha pergunta agora vai para os jornalistas: Porque perguntam se já conhecem de antemão a resposta? Quiçá para poder criticar o Papa, armar uma falsa polémica, desprestigiar a Igreja ou preencher espaço nos jornais?
Alguns até ousavam frisar que o Papa, muito longe da misericórdia que motivava a conduta de Jesus, estava a condenar milhões de africanos a morrer de sida.
A que vai o Papa a África? A impor a moral sexual da Igreja e a condenar os preservativos? A que vai? O deixou bem claro no seu primeiro discurso, supramencionado, ao aterrar em Yaoundé, em que se apresentou como quem quer falar palavras de esperança e conforto para toda a África, como aquele que quer confirmar seus irmãos na fé católica e como portador dum Documento sobre “A Igreja em África ao serviço da reconciliação, da justiça e da paz”. Textualmente frisou: “Mesmo no meio dos maiores sofrimentos, a mensagem cristã traz consigo esperança… Diante da dor ou da violência, da pobreza ou da fome, da corrupção ou do abuso de poder, um cristão nunca pode ficar calado”.
A fé da Igreja em Jesus de Nazaré, a paz, a justiça, a reconciliação, a esperança, a misericórdia para com os que sofrem fome, doenças, estão sozinhos, são os valores que o Papa leva a África; ao mesmo tempo que denuncia a corrupção, a pobreza, a violência.
A Igreja é portadora dum ideal moral, do qual não pode abdicar, mesmo que isso lhe acarrete impopularidade e até perseguição. Mas a Igreja sabe também que todo o ser humano, todos e cada um dos seus membros, sem excluir o próprio Papa e a quem isto subscreve, são frágeis e pecadores. E nem por isso se deixa de pertencer ao rebanho de Bom Pastor. Também os católicos usamos o preservativo, porque somos pecadores em exercício. Mas nem por isso ficamos excomungados. Nos arrependemos, nos confessamos e voltamos a lutar contra o pecado…
Se alguém viesse consultar comigo, padre católico, e se exprimisse nestes termos:
-- Padre, sou fraco e pecador. De vez em quando permito-me alguma licencia moral e faço sexo, e não com a minha mulher, porque não tenho. Que faço? Uso ou não a camisinha?
-- Filho, sê casto, com a graça de Deus - lhe aconselho.
-- Nem sempre me aguento. É por isso que consulto. Que é menos imoral: fazer sexo com ou sem a camisinha? Já sei que a Santa Mãe Igreja… Mas, compreenda, padre…
Podem imaginar a minha resposta, que acho que seria a mesma do Papa. Mas não me peçam – e menos à Igreja na pessoa do Papa - que pregue a favor do preservativo nem que faça campanhas para a sua distribuição gratuita.
Não sei qual dos rebanhos será mais numeroso: o do Papa ou o da Senhora Dulcelina. Mas sim gostaria de informar à Directora do INLS de Angola, onde está a chegar o Papa aquando isto escrevo, que no rebanho da Igreja cabem também os que por fraqueza se protegem com o preservativo, se arrependem de pecar contra a castidade, se confessam, e continuam a luta da superação moral e espiritual.
Mais dois acrescentos para terminar:
Também compreendo por quê o Papa disse que as campanhas a favor do preservativo podem agravar as coisas. Para não alongar-me mais, os leitores perceberão que o que eu quero dizer está maravilhosamente resumido no provérbio: Semearam ventos, colherão tempestades (Os 8, 7).
A segunda matização: A Igreja não é parte do problema da sida no mundo; é parte da sua solução. Um botão de amostra: Estando eu a escrever este artigo, chegou às minhas mãos a revista “Sal terrae”, deste mês de Março, que inclui um depoimento acerca do serviço de luta contra a sida que os Jesuítas têm na Região de Ruanda-Burundi. Neste sentido o Papa já falou e continuará a falar incentivando os cristãos a lutar denodadamente contra o "terrível flagelo da SIDA" e em prol das pessoas contagiadas. No ranking mundial da luta contra a sida, depois das instituições da ONU vêm as da Igreja Católica. Com que armas luta a Igreja nesta guerra?
Primeiro, com a educação à responsabilidade das pessoas no uso da sexualidade e com a reafirmação do papel essencial do matrimónio e da família.
Segundo, com a pesquisa e a aplicação de tratamentos eficazes da SIDA e colocando à disposição do mais amplo número de doentes as muitas iniciativas e instituições de saúde.
Terceiro, com a assistência humana e espiritual aos doentes de SIDA, como de todos os sofredores, que desde sempre estão no coração da Igreja.


P. Vicente Nieto

segunda-feira, 23 de março de 2009

Missas ENS


Proxima Missa mensal:

- 5 de Abril, na Igreja dos meninos da Graça pelas 11horas

- Dinamiza a Equipa Évora 3
- Celebração Penitencial dos casais das ENS

(NOVA DATA)


  • Realizar-se-á dia 27 de Março de 2009, pelas 18 horas na Igreja de Nossa Senhora Auxiliadora.
DIÁRIO

Carta de Amparo Gironés do Porto hoje na secção Cartas ao Director do Público (21 de Março de 2009)

Visita de Bento XVI aos Camarões

Gostava de manifestar a minha perplexidade perante os ecos nos meios de comunicação, e não só, da famosa “condenação do preservativo” proferida por Bento XVI. Não sei se a maior parte dos jornalistas terá tido o incómodo de ir ler directamente as tais condenações. Dá a impressão que bastantes não. Por exemplo, a última página do Público do dia 18 de Março diz: “Por que não a opção pelo silêncio num tema tão sensível?”.
Fui ler todos os discursos do Papa nos Camarões: todos! Em nenhum deles fala do preservativo. Fala, sim, da dignidade da pessoa de uma maneira tão bela e realista como é característico dos seus discursos.
De onde vem então a conversa sobre os preservativos? De uma sessão de perguntas postas por jornalistas de vários países durante a viagem de avião. E claro que, se um jornalista pergunta directamente sobre um tema, é de boa educação responder (fica claro que Bento XVI não tinha previsto em nenhum discurso abordar o tema dos preservativos dessa maneira. O objectivo da viagem a África foi, como ele disse ao chegar aos Camarões: “Vim aqui para apresentar a Instrumentum laboris para a Segunda Assembleia Especial, que terá lugar em Roma no próximo mês de Outubro”).
A resposta que o Papa deu ao jornalista Philippe Visseyrias da France 2 foi a seguinte (peço desculpa por citar uma tradução em espanhol):
“(…) no se puede solucionar este flagelo solo distribuyendo profilácticos: al contrario, existe el riesgo de aumentar el problema. La solución puede encontrar-se sólo en un doble empeño: el primero, una humanización de la sexualidad, es decir, une renovación espiritual y humano que traiga consigo una nueva forma de comportarse uno con el otro, y segundo, una verdadera amistad también y sobre todo hacia las personas que sufren, la disponibilidad incluso con sacrificios, con renuncias personales, a estar con los que sufren. Y estos son factores que ayudan y que traen progresos visibles. (…)”
Aonde está a condenação? Essas palavras podem ser interpretadas como uma condenação? Muitos dos jornalistas que ainda hoje repetem os mesmos tópicos terão lido essas palavras? Mesmo o jornalista António Marujo, depois de várias criticas, no fim do artigo do mesmo dia 18 diz: “Bento XVI pode ter razão noutra coisa: o preservativo não é “a” solução do problema…”. Não é isso o único que o Papa diz nessa fatídica resposta? O próprio autor do artigo cita a directora do instituto angolano contra a sida, Dulcinea Serrano: “Comportamentos como a fidelidade e a abstinência também jogam um papel importante na redução das novas infecções”…Não se parece isto mais ao que o Papa disse?
Será justo que a resposta a um entre vários jornalistas anule completamente os ensinamentos e o conteúdo de uma viagem inteira?

Amparo Gironés, Porto